quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Qdo a fecundação não se dá in vitro

RAQUEL DO CARMO SANTOS

Muito se fala dos casos de sucesso da fertilização in vitro, técnica conhecida como “bebê de proveta”, cuja fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo, em laboratório especializado. Depois de um processo muitas vezes difícil e desgastante, o casal exibe o bebê como um marco de vitória. Mas nem sempre a história termina bem. Muitos não alcançam o sucesso desejado. “Frente ao diagnóstico de infertilidade, muitos casais procuram a técnica na busca por um filho biológico. Este tratamento apresenta aspectos difíceis como, por exemplo, injeções de hormônios, a anestesia, obtenção das amostras de espermatozóides e a ansiedade durante cada etapa do tratamento”, destaca a psicóloga Juliana Nicolau Filetto, que investigou o universo dos casais que passam pelo processo.

As exigências do tratamento, segundo Juliana, provocam nos casais um considerável desgaste físico e psíquico, envolvendo vivências de angústia, esperança, frustração, preocupações com as questões econômicas, pressões familiares e sociais, entre outras. O que surpreendeu a psicóloga foi que mesmo os procedimentos de fertilização não oferecendo garantia de gravidez, muitos casais iniciam os procedimentos com alta expectativa em relação à gestação. “É como se, ao iniciar o processo, já se ter a garantia da gravidez”, explica.

No mestrado, defendido em 2004, na Faculdade de Ciências Médicas e orientada pela professora Maria Yolanda Makuch, Juliana entrevistou 92 casais que não tiveram sucesso na fertilização, no período de 1995 a 2000, no Ambulatório de Reprodução Humana do Hospital da Mulher-Caism. No doutorado, defendido este ano, ela selecionou nove casais e fez uma nova análise do material colhido, aprofundando o assunto. Seu objetivo foi basicamente descrever as vivências de homens e mulheres ao estarem iniciando os procedimentos e em longo prazo após o fracasso da terapêutica.

Em suas conclusões, Juliana constatou que dos nove casais, apenas dois adotaram filhos como uma forma de reorganizar os projetos de vida. Um deles não tinha filhos, mas no caso do outro, a parceira já possui um filho do relacionamento anterior e desejava que seu parceiro exercesse a paternidade. Um dado curioso da pesquisa foi observar que dois casais, mesmo já tendo filhos biológicos, tinham o desejo de constituir uma família maior.

No estudo, os casais sem filhos decidiram realizar novas tentativas de fertilização in vitro em clínicas particulares. “Eles acreditavam que pagando pelo tratamento teriam a garantia da gravidez. Já os demais casais se dedicaram a outros projetos de vida que não fosse o de conceberem um filho biológico”, esclarece. A psicóloga observa que várias foram as formas encontradas por esses casais para se reorganizarem.

Os resultados da pesquisa, segundo Juliana, podem contribuir para um maior conhecimento de vários aspectos para os casais que decidirem pela fertilização in vitro, pois relata as vivências em cada etapa da terapêutica. Aos profissionais de saúde, Juliana acredita que permitirá oferecer um serviço de orientação aos casais antes, durante e após o tratamento. “Creio que reduziria a expectativa, ansiedade e sintomas depressivos, procurando favorecer um bom funcionamento psicossocial após a não-gravidez”, explica a psicóloga.

Fonte: Jornal da UNICAMP - http://www.unicamp.br/



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